14 março 2023

Os números e os rostos da classe docente


Por Rui Cardoso, 12º D,

Artigo de opinião apresentado à iniciativa do Público - Isto também é comigo! 




O artigo de opinião intitulado “Professor, o empregado que financia o patrão” dá-nos a perspetiva de um docente sobre debate a que temos assistido no setor da Educação.
O seu autor, António Fernandes Nabais, sugere que os representantes políticos não têm uma visão estratégica e que apenas fundamentam a sua argumentação em pressupostos de cariz económico, alegando que algumas cedências podem colocar em causa a sustentabilidade do sistema. Depois demonstra-nos como, também por razões de cariz económico, urge ceder às reivindicações dos professores. O facto de muitos destes profissionais exercerem as suas funções a dezenas ou centenas de km de casa, faz com que tenham encargos elevados em transporte e, por vezes, numa segunda habitação. A contrapartida para este esforço é paga com mais trabalho não remunerado, como a correção de exames, a orientação de estágios, com a retirada do tempo de serviço prestado ou a imposição de quotas que impedem que todos os docentes possam atingir o topo de carreira, o que acaba por ter um duplo efeito. Não só não recebem mais no presente como passarão a auferir, num futuro longínquo, reformas mais baixas.
Os responsáveis políticos deste setor têm uma responsabilidade acrescida. Devem, por um lado, garantir uma Escola Pública de qualidade e, por outro, ser um exemplo no respeito dos direitos dos trabalhadores, algo que nem sempre acontece. A não reposição do tempo de serviço prestado é dos exemplos mais evidentes. Não é necessário ter muitos conhecimentos em direito para verificar que esta prática contraria o disposto no ponto 4 do Art. 63º da Constituição da República Portuguesa: “todo o tempo de trabalho contribui (...) para o cálculo das pensões de velhice” .
Urge mudar o paradigma atual. Como? Não sei... que tal ouvir verdadeiramente os professores... Saber gerir é também ter a consciência de que o êxito de uma empresa depende da qualidade do trabalho dos seus colaboradores e, por conseguinte, da sua motivação. Da realidade que conheço, penso que não se pode motivar um professor obrigando-o a percorrer centenas de km quando existem vagas disponíveis junto da área de residência.

Artigo analisado disponível em

Palavras&Cª. Abril de 2024